O ano era 1996. Eu tinha 13 anos e morava na Vila Serrana I com meus pais e meu irmão de apenas 4 anos. Era comum jantarmos na casa dos meus avós, no Recreio, e voltarmos para casa já mais tarde, em nosso Uno Mille. No carro, minha mãe dirigia, eu ao seu lado, no banco do carona, e meu irmão dormia no banco de trás. Me lembro de todos esses detalhes porque meu pai não estava conosco, e sim passando uma temporada de seis meses para um curso em Curitiba. O combinado era ligar para ele assim que chegássemos em casa, para informar que chegamos em segurança. Obviamente, não havia internet ou celulares.
Àquela época, o lado oeste da cidade era ainda mais escuro e "largado". A Avenida Brumado, após a Urbis II, passava a mostrar um aspecto de rodovia, com poucas construções às suas margens, e postes que pouco iluminavam, com a antiga lâmpada amarela. Passando do Complexo Policial e do posto de gasolina do outro lado da via, era a estrada deserta, com as tradicionais entradas para a Urbis IV, V, Miro Cairo e Vila Serrana, onde viraríamos à direita.
A atual Avenida Rafael Spínola provavelmente nem tinha esse nome ainda. Se hoje temos uma Avenida Brumado iluminada, com ciclovias, e completamente preenchida até o anel viário, nessa época, sequer tínhamos a garagem da Passaredo, uma das primeiras empresas de ônibus coletivo a abrir "concorrência" à antiga VCL. Passando pelo local recentemente, vi que ainda é uma garagem, de uma das empresas de ônibus atuais. Enfim, a "entrada da Vila Serrana" não passava de uma estrada de barro sem qualquer iluminação até chegar ao cruzamento com a atual Avenida Sérgio Vieira de Melo, conhecida por nós como a "avenida do CEFET", ou a "avenida que corta a URBIS V". Para quem vinha da Brumado, no sentido centro-Vila, após virar à direita, havia, do lado do passageiro, uma grande e perigosa valeta, a mesma que cortava todo o bairro, desde a Vila 4, alinhando-se à Brumado em direção ao sentido de onde viemos. Nada de proteção: muitos carros já caíram ali. A entrada da Vila era, como disse, uma via de barro, mão dupla e sem iluminação. Hoje essa valeta divide os dois sentidos da via, é asfaltada, iluminada e completamente urbanizada.
O céu estava nublado, mas com "buracos" na grossa camada de nuvens, como quando depois de uma forte chuva, revelando fragmentos do céu estrelado e bem iluminado pela lua. Não me lembro se realmente havia chovido, mas esse aspecto me chamou a atenção enquanto o carro seguia a interminável reta pela Avenida Brumado. Eu olhava exatamente um desses "buracos" na nuvem, no trecho entre a URBIS V e a Vila Serrana, possível de se ver pelo para-brisas do Fiat, quando percebi um ponto branco, como mais uma estrela, surgindo naquela janela no céu. Estava se movendo, como um avião, e descendo em uma velocidade constante e suave, mas relativamente rápida. Descia cada vez mais. Lembro de comentar, em tom de brincadeira: "ei! Desse jeito aquele avião vai cair em cima da gente!". Minha mãe seguia dirigindo, mas também conseguia ver.
A luz desceu até alinhar-se conosco na Avenida Brumado, mas cerca de 300 metros à nossa frente, na altura de um pequeno prédio. De repente, nosso carro, já chegando à entrada da Vila, estava frente a três luzes brancas e muito fortes, como três faróis de carreta que formavam um triângulo, apontadas para nós. Nos chamou a atenção que não machucavam os olhos. Eram muito fortes, mas conseguimos continuar olhando. A esta altura não me lembro de falarmos algo. O carro virou à direita, para subir a estrada de terra para casa.
Foi quando tive a noção mais exata da distância entre nós e o objeto: onde atualmente está a garagem da empresa de ônibus havia um pequeno conjunto de casinhas, lado a lado, viradas para a Avenida Brumado. No Google Maps utilizei o recurso de medir distância, no ponto da entrada até onde deveria ser o local dessas casinhas. Apontou 73 metros. À época parecia um pouco mais, mas vamos considerar uma distância de aproximadamente 100 metros. As três luzes, sobre a Brumado e de frente ao nosso carro, continuaram alinhadas a nós quando viramos à direita, também subindo a ladeira, emparelhadas na mesma velocidade, mas ainda aparentemente de frente para nós, como um helicóptero deslocando-se lateralmente. Me lembro claramente da visão desse aparelho sobre as casinhas, numa altura de duas ou três delas. Minha mãe, aflita, continuava dirigindo, olhando para a frente, e eu olhava diretamente para o objeto.
Nessa hora percebi haver, mais à frente, outro carro, também subindo a estrada de terra. Me parecia ter parado no meio do caminho. Na hora, a impressão que tivemos foi a de que parou para ver o mesmo fenômeno, a uma distância segura. O objeto voador nos acompanhou por mais alguns segundos. O carro à frente seguiu seu caminho, subindo para a Vila Serrana. Nós já chegávamos à parte asfaltada quando o objeto parou de nos acompanhar, seguindo em direção à Lagoa das Bateias, voando devagar. Nesse momento, consegui ver um pouco mais do que apenas as três luzes. Me pareceu um formato de disco, como nos filmes. Gritei: "não acredito!". Ele desceu até a região da lagoa, à época considerado um grande e inalcançável brejo, próximo à pista do aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo, atualmente desativado. Normalmente era possível, daquele ponto, ver os aviões pousando, mas não me lembro de ver o objeto seguindo o trajeto usual dos aviões, na pista. Não me lembro sequer de ver a pista com sua iluminação acesa.
Chegando em casa, não sabíamos o que pensar. Meu irmão poderia ter visto tudo também, se estivesse acordado. Tive a ideia de pegar a lista telefônica e ligar para o aeroporto. Liguei e perguntei qual fora a última vez que um avião tinha decolado ou pousado. A pessoa me disse algo como há mais de trinta ou quarenta minutos. Então, o que foi aquilo que vimos, cinco minutos antes?
Ligamos para meu pai, informando já estarmos em casa e seguros. Contamos essa história, mas ele não levou a sério. Todas as vezes em que eu e minha mãe tocamos no assunto ele parece não levar a sério, até hoje. Meu irmão também segue o mesmo raciocínio. Paramos de falar a respeito. Vez ou outra minha mãe, em meio a alguma conversa, quando raramente surge o tema, lembra que nós já vimos um disco voador.
Na época, desenhei, em alguma folha de caderno, tanto o "disco" que vi lateralmente, quando ele desistiu de nos seguir, quanto a configuração das três luzes frontais que se alinhou ao nosso carro, ainda na Avenida Brumado. Perdi esses desenhos, infelizmente. Se algum dia encontrá-los, fotografo e insiro nesta página.
Mais alguns detalhes que me lembro: as três luzes eram brancas e pareciam realmente potentes faróis que associei a carretas na época. Como disse, eram muito fortes, mas não ofuscavam a vista. Não havia quaisquer outras luzes aparentes, tampouco luzes de sinalização de aviação. Nenhuma luz piscando, nenhuma outra luz além dessas três. Nenhuma variação de cor. Quando o "disco" "desistiu" de nós, tive a clara sensação de vê-lo lateralmente: as luzes não estavam mais apontadas para nós, me permitindo vislumbrar o formato do aparelho na penumbra.
Esta foi a única vez em que vi algo parecido. O episódio ficou marcado para sempre em minha memória. Como não é algo revisitado com frequência (e nem é tão espetacular assim, reconheço), há o risco do esquecimento gradual, com o passar dos anos, por isso decidi registrá-lo aqui. Não há como não pensar nisso ao passar pelo local, já que me mudei da Vila Serrana cerca de dez anos após o episódio, e raramente passo por lá. Desta vez me impressionou como tudo está profundamente diferente, urbanizado, iluminado, movimentado, em oposição àquela época. É interessante como revisitar um local "antigo" após muito tempo, nos induz a criar um "antes-e-depois" mental. Foi nesse momento que também veio, no mesmo pacote, a lembrança do "OVNI do Zabelê". Quando passar pelo local, olhe para a garagem de ônibus e tente imaginar a cena.
Plácido Oliveira, janeiro de 2025.

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